contador ERNANI - CRONICAS E POESIAS E SONETOS

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

 

                     


AS BENESSES DO GOVERNO

 

     Em números, a farra fiscal do agronegócio

     Em 2019, o Brasil arrecadou um centavo a cada R$ 323 exportados pelo setor. Cifra representa 0,000003%.   Agrotóxicos entram no país sem impostos. Reforma Tributária precisa enquadrar os grandes proprietários rurais.

     Todas as vendas de produtos do agronegócio para fora do Brasil em 2019 renderam aos cofres públicos apenas R$ 16,3 mil em imposto de exportação.   A cifra representa 0,000003% do valor total das vendas, ou seja, o Estado brasileiro arrecadou um centavo em imposto de exportação a cada R$ 323 mil faturados. A alíquota oficial é 30% – a mesma aplicada na Argentina, por exemplo –, mas a legislação permite que o governo altere o percentual tributado para estimular setores específicos da economia.

     Esse e outros dados reveladores sobre o modelo agroexportador foram reunidos no artigo Agrotóxicos, capital financeiro e isenções tributárias.O texto é um dos 38 que compõem o livro Direitos Humanos no Brasil 2020lançado nesta segunda-feira (7) pelo Movimento Humanos Direitos e pela Rede Social de Justiça e Direitos Humanos. 

     Novaes é advogado, membro da Defensoria Pública do Estado de São Paulo e do Fórum Paulista de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e Transgênicos. Jensen é economista, assessor sindical e membro da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos e da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra). 

 

     O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e sua família são defensores ferrenhos das isenções fiscais e dos subsídios estatais ao agronegócio. Em novembro, quando o governo de São Paulo retirou a isenção de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre alguns insumos agrícolas para 2021, as redes sociais bolsonaristas, incluindo dois dos filhos do presidente, se referiram ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), como “inimigo do agronegócio” e “inimigo da nação.”

     Adubos e fertilizantes, milho em grão, farelo de soja, sementes, produtos veterinários, agrotóxicos e rações são alguns dos itens que hoje são isentos e sobre os quais passará a incidir taxa de 4,14% no estado. O artigo de Novaes e Jensen não menciona essa medida específica, mas deixa claro que mudanças pontuais não alteram a lógica de “agro-dependência”.

     Indústria do veneno

     “Não há crise de governança em matéria de agrotóxicos. Trata-se da consecução de uma política estrategicamente pensada e aplicada, direcionada para o fomento do agronegócio, um dos eixos fundamentais do modelo de reprodução do capitalismo rentista e especializado na exportação de bens primários, com baixíssimo valor agregado”, diz o texto, acrescentando que cerca de 80% do agrotóxico consumido no país destina-se para apenas quatro culturas: soja, cana de açúcar, milho e algodão.

     Os autores ressaltam que o mercado de fabricação de agrotóxicos é oligopolizado por empresas estrangeiras e movimenta, em média, US$ 10 bilhões – mais de R$ 55 bilhões – anualmente no Brasil.

 

     As indústrias do setor desoneram-se integralmente do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), do Programa de Integração Social e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (PIS/COFINS). Além disso, são beneficiadas por desoneração parcial de ICMS.

     “Chega-se, assim, a […] um subsídio tributário direto de uma quantia próxima a US$ 3 bilhões por ano, correspondente a 30% das vendas do setor, o que está em consonância com a carga tributária vigente no país, que beira os 35%”, concluem os autores.

     Os agrotóxicos são considerados insumos para atividade agrícola, assim como os fertilizantes, sementes, aviões e maquinário. Por isso, o gasto com a sua aquisição é abatido integralmente nos tributos sobre a renda, o que os autores chamam de “subsídio indireto.”

     Financeirização

     Cerca de 90% dos agrotóxicos são vendidos diretamente a grandes e médios produtores rurais.

     Troca-se o pacote tecnológico”, composto por sementes e agrotóxicos, por parte da produção futura”, descreve o texto, em uma operação complexa que classificam como escambo.

     “O produtor rural emite um título de crédito que é repassado às indústrias e aos outros agentes da cadeia de financiamento, tais como bancos, securitizadoras, serviços de estocagem e comercialização externa (tradings), gerando novos títulos de crédito em cada fase da operação, que é finalizada, no mais das vezes, com um contrato de hedge para “trancar o preço futuro”.

     “Trata-se de uma operação estruturada e complexa que envolve, numa perspectiva contida, a emissão de cinco títulos creditícios (existem mais de vinte à disposição dos operadores), calculados com o valor-base da venda. São US$ 9 bilhões comercializados mediante “escambo”, com a operação lastreada em cinco títulos, no mínimo. Isso representa US$ 45 bilhões que alimentam o sistema financeiro e a circulação da riqueza-capital”.

     Os títulos de crédito do agronegócio, em sua grande maioria, são isentos de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), cuja alíquota é de 0,38%, além de Imposto de Renda incidente sobre o lucro da operação.      O montante poderia chegar a US$ 1 bilhão ao ano.

     Agro-dependência

     O artigo reúne ainda dados que mostram a baixa participação do agronegócio nas receitas públicas.

     Em 2019, a União arrecadou, excetuadas as contribuições previdenciárias, R$ 1,04 trilhão de reais, sendo que o setor da Agricultura, Pecuária e Serviços Relacionados contribuiu com apenas 0,27% dessas receitas. 

     Em São Paulo, a participação da agricultura e pecuária na receita do ICMS não passa de 0,1% do total.  O texto mostra ainda que o estado concede ao setor agroexportador subsídios que representam mais que toda a economia estimada com a reforma da Previdência do Servidor Público paulista e com a venda de empresas e fundações públicas em dez anos.

     Na conclusão do artigo, os autores defendem que a financeirização do capital investido no agronegócio e as “absurdas benesses tributárias” concedidas pelo Estado brasileiro evidenciam a necessidade de se atacar o problema da agro-dependência em sua totalidade, tendo em vista um projeto de Nação com soberania popular e alimentar.

     Entre outras medidas, a urgência de revogação da Lei Kandir, que veda a tributação de ICMS incidente sobre as operações de exportação de bens primários e semi-processados, e uma “tributação agressiva sobre as atividades rentísticas do mercado financeiro e dos grandes complexos agroindustriais.”

     O vídeo do lançamento do livro Direitos Humanos no Brasil 2020 estará disponível no canal da TVT no Youtube a partir desta terça-feira (8).

     Comentário:

     Todos os países do mundo deveriam boicotar os produtos de exportação do Brasil enquanto o governo não revogassem as leis sancionadas sobre agrotóxicos diminuindo ao máximo esse uso abusivo que persiste no envenenamento dos produtos de exportação: agropecuária, agronegócio e a agroindústria; por estarem contaminados com venenos em grandes quantidades acima do permitido mundialmente e exigidos em leis ambientais; e ainda, com o aval da lei do governo que permitiu aos ruralistas usarem agrotóxicos perigosos a saúde humana e animal de maneira indiscriminada; condenados esses venenos nos países do primeiro mundo. O Brasil está infringindo as normas e leis ambientais internacionais e da Organização Mundial de Saúde (OMS).

     Esses agrotóxicos empregados na lavoura estão prejudicando a saúde humana e animal e sendo responsável pelo aumento de casos: de câncer; suicídios; infertilidade; TDAH; espectro autista; doenças nos rins; danos ao fígado; Alzheimer; má formação de feto; depressão; hipotireoidismo; doenças cardíacas; alergias; e loucuras, (alterando as funções cerebrais). Foram constatados agrotóxicos: no leite materno; agrotóxicos em água de chuva; nas urinas dos professores de escolas rurais; e intoxicações nos camponeses.

     O governo brasileiro vem acobertando as multinacionais dos agrotóxicos dando a todos esses fabricantes de venenos um incentivo fiscal, ou seja, a isenção total de todos os impostos que hoje os brasileiros pagam e ficam sufocados com as taxas tributárias.

     O governo sabe muito bem dos prejuízos que esses venenos agrícolas vêm trazendo ao meio ambiente e a saúde pública, mas nada vem fazendo para defender o povo, porque as multinacionais são poderosas e mandam nesses políticos, essas empresas estrangeiras não querem perder os bilhões de dólares que ganham com a venda desses venenos.

     Esses venenos são usados em grande escala nas lavouras de monoculturas e mecanizados de exportação que degradam a terra e as deixam estéreis, sem se falar no prejuízo com a fauna e flora; com a derrubada de grandes áreas de cerrado para plantar uma monocultura, os animais que ali viviam tem dificuldades para se alimentar, não encontram mais abrigos e dificilmente conseguem se reproduzir. Aqueles que sobrevivem procuram outros locais, invadindo áreas urbanas, tornando-se então presas fáceis.

     O governo brasileiro está sendo conivente com os envenenamentos e uma morte lenta por doenças de origem na aplicação de agrotóxicos nas lavouras causando a morte da população em grande escala e ainda beneficia esses fabricantes criminosos com isenção de incentivos fiscais.

     O povo não se revolta contra essa situação porque são leigos e não conhecem o perigo que estão sendo expostos no dia a dia e são submetidos a uma câmara de gás lenta, invisível, mais de uma eficácia criminosa que surte um grande efeito nocivo ao povo.

Ernani Serra

 

Pensamento: A ignorância do povo é que move a esperteza dos políticos.

Ernani Serra