domingo, 13 de dezembro de 2020
Privatização da Casa da Moeda: 'grande gráfica' ou 'empresa estratégica para o Brasil'?
O governo federal colocou em 2019 a Casa da Moeda no Programa Nacional de Desestatização (PND) e a companhia passou a integrar o grupo d...
O governo federal colocou em 2019 a Casa da Moeda no Programa Nacional de Desestatização (PND) e a companhia passou a integrar o grupo de estatais que devem ser privatizadas durante a gestão do presidente Jair Bolsonaro.
Se aprovada, a decisão acaba com o monopólio da empresa, fundada em 1694, na fabricação de papel-moeda, moeda metálica, passaporte e impressão de selos de controle fiscal sobre a fabricação de cigarros.
A agência de notícias Sputnik Brasil conversou com dois especialistas, um a favor da privatização da Casa da Moeda e outro contrário a concessão da Casa da Moeda à iniciativa privada.
A principal justificativa utilizada por Arthur Vieira de Moraes, advogado, professor de Finanças da FECAP (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), favorável à privatização, é o encolhimento do Estado, uma das principais bandeiras do governo do presidente Jair Bolsonaro.
"A Casa da Moeda, em última análise, é uma grande gráfica e o governo não precisa operar uma gráfica", disse Vieira de Moraes.
Já Ênio Verri, deputado federal (PT-PR), contrário à privatização, diz que conceder o poder de imprimir papel moeda a uma empresa pode interferir em questões estratégica do país.
"Como que a fábrica de dinheiro, de impressão de moedas, documentos oficiais, fica na mão da iniciativa privada? Isso quer dizer que nós vamos ficar na mão da iniciativa privada em assuntos estratégicos e alguns emergenciais, me parece que o governo Bolsonaro não tem nenhuma preocupação com o que pode acontecer com o Brasil no futuro", afirmou.
Para Arthur Vieira de Moraes, no entanto, a impressão de moedas pode ficar a cargo de uma empresa privada, mas a decisão sobre como será feita a impressão é do Estado.
"O governo que diz para a Casa Moeda, seja ela estatal ou privada, o momento de imprimir moedas e a quantidade. Mas ele não precisa necessariamente operar essa gráfica especial das moedas", defendeu.Ênio Verri acredita que o custo de impressão de moedas e documentos com uma futura privatização da Casa da Moeda pode aumentar.
"É como se a Casa da Moeda passasse a ser uma gráfica como qualquer outra que existe em todo o Brasil [...] O resultado de uma empresa privada é o lucro, consequentemente vai ficar muito mais difícil imprimir nosso papel moeda com uma Casa da Moeda privatizada".
Comentário:
Com a privatização da Casa da Moeda o Brasil perde a Soberania Nacional como já vem sendo desrespeitado nas privatizações dos ativos da Petrobras, ficando o Brasil como acionista Preferencial sem direito a voto, e a carruagem das privatizações continuam para deixar o Brasil sem eira nem beira, na falência total. O Brasil vai ficar nas mãos dos estrangeiros e banqueiros internacionais. O Brasil vai virar uma Colônia dos EUA e o povo seu escravo. Quando o Brasil quiser emitir cédulas e moedas tem que comprar mais caro do que o valor que vai ser imprimido. Belo negócio estamos fazendo. Isso se chama corrupção e traição a Pátria.
Ernani Serra
FALTAM RECURSOS PARA AS UNIVERSIDADES,
MAS O BANCO CENTRAL QUER REMUNERAR
DIARIAMENTE A SOBRA DE CAIXA DOS
BANCOS NÃO AO PL 9.248/2017
Maria Lucia Fattorelli
Eblin Farage
28/03/2018
A vida do povo brasileiro está cada dia mais complicada, lidando com
desemprego ou arrocho salarial, perda de direitos e deficiência nos serviços
públicos, especialmente saúde e educação; tudo justificado pela falta de
recursos no país. Investimentos geradores de emprego? Nem pensar! Não há
recursos! A privatização de empresas estratégicas como a Eletrobrás, a Casa da
Moeda e tantas outras está sendo justificada pela falta de recursos para a sua
operação. Até a água está sendo privatizada. Entrega do Pré-Sal para
estrangeiras, idem: faltam recursos. As Universidades Públicas estão com o seu
funcionamento ameaçado por falta de recursos.
Em meio a essa carência total de recursos para áreas essenciais, o Banco
Central exige que o Congresso Nacional aprove urgentemente um projeto
de lei (PL 9.248/2017) para garantir a remuneração diária de toda a sobra
de caixa dos bancos – que já alcança R$ 1,14 TRILHÃO – e desregulamentar
a emissão e o controle da nossa moeda pelo Congresso Nacional.
O projeto, como todos esses outros que beneficiam ao setor financeiro e
grandes corporações, está cifrado. Seu texto resumidíssimo e aparentemente
inocente diz:
Art. 1º Fica o Banco Central do Brasil autorizado a acolher depósitos voluntários à
vista ou a prazo das instituições financeiras.
Parágrafo único. O Banco Central do Brasil regulamentará o disposto neste artigo,
podendo dispor, inclusive, sobre a remuneração, as condições, os prazos e as
formas de negociação dos depósitos voluntários.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 3º Ficam revogados os art. 3º, art. 4º, art. 6º e art. 7º da Lei nº 9.069, de 29
de junho de 1995
Na prática, referido projeto autoriza que os bancos depositem no Banco Central
toda a sua sobra de caixa, e o Banco Central irá remunerá-la. Para isso não
faltam recursos!
A remuneração diária da sobra de caixa dos bancos já vem sendo feita pelo
Banco Central por meio das ―Operações Compromissadas‖, que desde janeiro
de 2016 vem superando R$ 1 TRILHÃO. Vamos fazer conta? O Brasil paga os
juros mais elevados do planeta. Qual é o gasto para se remunerar diariamente a
quantia de R$ 1 TRILHÃO? Conforme mostram os balanços do Banco Central,
nos últimos 4 anos (2014 a 2017) foram pagos R$ 451 bilhões de juros nestas
operações, ou seja, quase meio trilhão de reais em apenas quatro anos para
remunerar a sobra de caixa dos bancos!
Os beneficiários dessa fortuna são sigilosos, negada pelo Banco Central até a
parlamentar; só se sabe que são instituições financeiras.
A justificativa para as ―Operações Compromissadas‖ é o controle inflacionário.
No entanto, como explicar o fato de o volume dessas operações ter aumentado
em 2017 para quase R$1,2 TRILHÃO, ao mesmo tempo em que a inflação caía e
chegou perto de zero?
Evidentemente, não há justificativa, e sequer autorização legal para tamanha
aberração que provoca imenso dano às finanças públicas e à sociedade, lacuna
que o PL 9.248/2017 pretende suprir.
Além de representar gasto excessivo e privilégio injustificado em favor do setor
bancário que já acumula lucros exorbitantes, tais operações provocam enorme
dano à economia do país, afetando todo o setor produtivo e também as
pessoas que dependem de crédito: à medida em que o Banco Central esteriliza
esse imenso volume de recursos (R$ 1,2 Trilhão correspondente a cerca de 18%
do PIB), provoca escassez de moeda em circulação e empurra a elevação das
taxas de juros de mercado para patamares indecentes.
Imaginem o que aconteceria se o Banco Central não realizasse essas Operações
Compromissadas. O que os bancos fariam com sua sobra de caixa? É evidente
que se esforçariam para emprestar essa montanha de dinheiro e, para isso,
necessariamente teriam que reduzir as taxas de juros, o que desamarraria a
economia do país, facilitaria os investimentos geradores de emprego e renda, e
daria fim a essa crise provocada justamente por essa política monetária suicida.
O depósito voluntário remunerado proposto pelo PL 9.248/2017 terá o mesmo
efeito que as atuais Operações Compromissadas, com mais um agravante:
atualmente sabemos apenas o volume dessas operações, divulgado no Quadro
XXXVII das planilhas de Estatísticas Fiscais do Banco Central. Os beneficiários
privilegiados por tais operações são SIGILOSOS.
Se o PL 9.248/2017 vier a ser aprovado, sequer saberemos o volume dessas
operações, tendo em vista que depósito bancário é informação SIGILOSA no
Brasil.
Está cada dia mais explícito o objetivo da Emenda Constitucional 95 (PEC do
teto), que estabeleceu teto apenas para os gastos e investimentos sociais, para
que sobrem mais e mais recursos para privilegiar os gastos financeiros, que
ficaram fora do teto e de qualquer limite.
O PL 9.248/2017 revoga ainda vários artigos da Lei 9.069/95, do Plano Real.
A revogação do arts. 3o e 4o da Lei 9.069/95, que tratam de emissão do Real
pelo Banco Central e seu lastro, extingue algumas obrigações do Banco Central
e do Conselho Monetário Nacional relacionados ao controle de emissão da
moeda e sua estabilidade. Já a revogação dos arts. 6o e 7o da mesma Lei
9.069/95 extingue a obrigatoriedade de o Banco Central apresentar ao
Congresso Nacional a programação de política monetária e respectivos
relatórios de acompanhamento, ficando isento também de apresentar
demonstrativos de emissão do Real.
Tais revogações desregulamentam o controle monetário por parte do
Congresso Nacional, o que está diretamente vinculado à inconstitucional Lei
13.416/2017, que admitiu a impressão do Real no exterior, ao arrepio do
que estabelece o art. 164 da Constituição Federal.
A soberania nacional foi colocada em risco com a impressão do Real no exterior
e ficará ainda mais aviltada com tais medidas de desregulamentação propostas
pelo PL 9.248/2017.
Enquanto o governo propõe esse tipo de benesse bilionária aos bancos
privados, mantém os cortes nas políticas públicas e sociais, como publicado no
dia 12 de março no Diário Oficial da União a Lei nº 13.633 pela qual “Fica aberto
aos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União (Lei nº 13.587, de 2 de
janeiro de 2018), em favor dos Ministérios da Educação, da Saúde e do
Desenvolvimento Social, crédito especial no valor de R$ 2.000.000.000,00 (dois
bilhões de reais), para atender à programação constante do Anexo I”, e
simultaneamente estabelece que “Os recursos necessários à abertura do crédito
de que trata o art. 1º decorrem de anulação de dotações orçamentárias, conforme
indicado no Anexo II”.
Trata-se, em essência, de um corte dos investimentos na ordem dos 2 bilhões
de reais nos seguintes órgãos: Ministério da Educação (R$ 600.000.000),
Ministério da Justiça e Segurança Pública (R$ 224.734.791), Ministério da Saúde
(R$ 454.202.968), Ministério do Trabalho (R$ 10.600.000), Ministério da Cultura
(R$ 13.307.174), Ministério da Defesa (R$ 294.887.583), Ministério do
Desenvolvimento Social (R$ 400.000.000), Advocacia-Geral da União (R$
1.367.484), e Ministério dos Direitos Humanos (R$ 900.000). Estes cortes
destinam-se a financiar, em montante proporcional, as atividades do Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação (R$ 600.000.000), do Fundo
Nacional de Saúde (R$ 1:000.000) e do Fundo Nacional de Assistência Social (R$
400.000). Observamos que nesta lei não há cortes no FIES, que beneficia
principalmente aos proprietários das instituições particulares, endividando os
jovens das camadas populares.
Assim, continua a política de cortes dos investimentos sociais, e em particular na
área da educação superior, que como já denunciada pelo ANDES (Sindicato
Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), padece de um
subfinanciamento crônico de longa duração, que não foi resolvido pelos
governos nestes últimos anos, e, ao contrário, a partir de 2015, apesar do slogan
―Pátria Educadora‖ que o governo da época utilizava como sua marca, observase que o setor das IES (Instituições de Ensino Superior) começa a sofrer uma
diminuição significativa do orçamento, que agora se aprofunda ainda mais.
Naquela oportunidade, primeiramente as parcelas mensais repassadas para as
universidades deixaram de ser de 1/12 para passar a ser de 1/18. Finalmente,
naquele ano de 2015 foram cortados R$ 10,6 bilhões, o que reduziu o
orçamento autorizado para 2015 de cerca de R$ 109 bilhões para
aproximadamente R$ 98 bilhões.
Em meio a tamanha escassez de recursos para as áreas sociais fundamentais
para a sociedade, como é possível o próprio Banco Central do Brasil exigir
―urgência‖ para a aprovação de medidas que favorecem a remuneração
injustificada de R$ 1,14 TRILHÃO a bancos e, ainda por cima, desregulamentar a
emissão da nossa moeda e o seu controle? Em tempos de intervenção, parece
que a intervenção necessária e urgente é a intervenção social no Banco Central
e no Ministério da Fazenda, para que os recursos públicos se destinem,
prioritariamente, para os investimentos sociais, especialmente educação e
saúde.
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(1)Coordenadora Nacional da Auditoria Cidadã da Dívida e