Voluntários
lutam para salvar animais feridos no Pantanal; veja detalhes:
Veterinários,
bióloga, guia e pantaneiro se dedicam há 20 dias a resgatar espécies; Além de
cuidar dos bichos, equipe distribui bebedouros e alimentos em áreas atingidas.
Por
Ananda Porto, Terra da Gente, 13/09/2020 09h23 Atualizado há
10 horas.
Voluntários resgataram na sexta-feira (11) uma onça-pintada com as patas
queimadas.
A agonia e a tristeza em ver o Pantanal
Norte em chamas e a biodiversidade local sendo devastada de forma avassaladora
pelas queimadas levou a guia Eduarda Fernandes Amaral agir em prol dos animais
feridos e criar um grupo de voluntários para atuar no resgate desses bichos.
“Eu não aceitava mais ver animais
agonizando para morrer. Algo precisava ser feito, o start foi quando uma anta
com filhote morreu nos meus braços e eu não pude fazer nada por falta de equipe
e preparo. A partir daí eu movimentei uma vaquinha para financiar equipamentos,
materiais, veterinários e toda a equipe para trabalhar”, conta.
O time foi composto por seis voluntários
de diferentes regiões do Brasil, os veterinários Jorge Salomão, Felipe
Coutinho, a estudante de veterinária Isabella Cristina, a bióloga Natália
Smiotto, a guia e o pantaneiro João Paulo, proprietário da pousada Jaguar
Ecological Reserve, onde a equipe está alojada.
Há quase vinte dias, diariamente, eles se
dedicam a mesma atividade: fazer patrulha em áreas atingidas pelo fogo,
distribuir cochos e frutas pelo caminho para os animais, e atender chamados de
resgates solicitados.
Animais desidratados e feridos são
resgatados por equipe de voluntários no Pantanal Norte. Embora seja necessário o manejo e o cuidado
de animais, em casos de desidratação e ferimentos graves, o trabalho de
distribuir água e alimento é considerado um dos mais fundamentais pela equipe,
já que os animais estão desorientados em meio ao território devastado e
dificilmente encontram recursos naturais para sobreviver.
“Os bebedouros são uma forma eficiente de
auxiliar o animal achar água no meio dessa sequidão. Os cochos podem salvar
muito mais bichos do que o resgate” comenta Eduarda.
Equipe de voluntários presta primeiros
socorros a quati encontrado desidratado Nós
fazemos a busca ativa, entramos no carro e saímos a procura dos animais feridos
que precisam de tratamento. Achando os
animais a gente faz os primeiros socorros na base que a gente improvisou e se
for grave direcionamos para outras instituições, pois não temos estrutura para
isso. A sede dos voluntários fica no quilômetro 110 da Transpantaneira.
Além de alojamento para o time de resgate, o local também conta com uma
estrutura provisória criada para atender os bichos, e ainda fazer o
acompanhamento necessário.
Em casos emergenciais os animais são
encaminhados para o Hospital Veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso
(HOVET), em Cuiabá ou ainda outras instituições.
Equipe distribui cochos com água e
alimento para os animais.
“Nós estamos trabalhando com tudo
literalmente improvisado, não tem nenhum posto de atendimento, um centro
especializado para que a gente possa encaminhar esses animais, não tem
estrutura nenhuma da parte estadual, federal, por exemplo,”, comenta Jorge
Salomão.
Sem amparo o grupo utiliza recursos
próprios para atuar na frente de batalha. “Estamos usando veículos próprios,
além disso, gente está tendo que pagar veículo para transportar alguns animais
grandes, tivemos que fretar um caminhão para transportar uma anta. A maior
dificuldade é a falta de estrutura para trabalhar e o local para destinar os
bichos para tratamento”, acrescenta.
Em pouco mais de duas semanas 14 animais
foram resgatados. De acordo com Eduarda, os répteis estão entre os animais mais
atingidos pelo fogo, e os mamíferos também, sendo que grande parte deles é
encontrada com as patas queimadas.
Anta ferida pelo incêndio precisou de
atendimento dos voluntários.
“A maioria dos casos são graves, como os
ferimentos são nas patas, que é o que sustenta todo o peso do corpo, são sempre
graves”, afirma.
A equipe também está realizando a patrulha
no Parque Estadual Encontro das Águas, o lugar conhecido por abrigar a maior
concentração de onças-pintadas no mundo e que já teve metade do território
atingido pelo fogo. “Nós vamos com nossos barcos. Geralmente a patrulha começa
cedo e vai até de tarde dependendo da demanda”, diz.
Na quinta-feira (10) uma onça-pintada foi
localizada prostrada e com ferimento nas patas, infelizmente este indivíduo não
conseguiu ser resgatado. No dia seguinte os voluntários conseguiram ajudar
outra onça que também estava ferida, e com apoio do helicóptero da
marinha, o felino foi encaminhado para o hospital
veterinário do estado. Em agosto uma onça-pintada foi resgata com as
quatro patas queimadas, o animal está sob acompanhamento em Goiás.
Ambientalistas tentam salvar animais em
santuário ecológico em chamas em Mato Grosso.
Para atuar na linha de frente a equipe
precisa driblar o sofrimento, o cansaço e criar forçar para ajudar a salvar as
espécies. “É muito triste, eu não tenho palavras para descrever tudo isso. Eu
posso dizer que vou sair outra pessoa dessa situação. O que nós estamos fazendo
é de extrema importância e não estamos fazendo mais nada além da nossa
obrigação”, finaliza Eduarda.
Jorge Salomão, veterinário que trabalha
com animais silvestres também lamenta o cenário atual da maior planície
alagável do mundo. “O cenário é devastador, a gente olha e chega a doer, está
tudo devastado o fogo queimou literalmente tudo, é muito triste está tudo cinza
e silencioso a gente não ouve aquele barulho das aves, é bem triste”, aponta.
Há mais de duas semanas voluntários se
dedicam em resgatar animais no Pantanal.
Embora o time não meça esforços para
ajudar nessa grande batalha, muitos desafios surgem pelo caminho,
principalmente relacionados à falta de apoio, logística, comunicação e também
suporte dos órgãos públicos.
Para que seja possível continuar
executando o trabalho os voluntários contam com apoio de doações que estão
sendo movimentadas pelos fundos da ONG Ampara Animal ou o Pantanal Relief
Found. No Instagram a equipe divide diariamente um pouco desse trabalho árduo e
informa como as arredações podem ser feitas.
Também estão na linha de frente de ajuda
aos animais machucados, o Grupo de Resgate de Animais em Degradação (Grad) e a
ONG Ecotrópica. Além disso, há voluntários e pantaneiros atuando no combate ao
fogo.
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Ernani Serra
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Pensamento: A
vida animal é essencial para a vida humana e para o equilíbrio dos biomas.
Ernani Serra