Fale sobre o feminicídio em Recife e no
Brasil. Faça uma estatística do feminicídio em Recife e no Brasil.
O feminicídio — o assassinato de mulheres
motivado pelo gênero, geralmente envolvendo violência doméstica ou
discriminação — é uma realidade alarmante tanto no Recife quanto no cenário
nacional.
Como estamos no final de 2025, já temos
dados consolidados de 2024 e análises importantes deste ano. O panorama revela
que, apesar de algumas oscilações mensais, a violência letal contra a mulher
continua batendo recordes e exige atenção crítica.
Abaixo, apresento uma análise detalhada e
as estatísticas solicitadas.
1. Cenário Brasil (Dados Recentes)
Em 2024 e 2025, o Brasil viu um fenômeno
preocupante: enquanto as mortes violentas gerais (homicídios comuns) tendem a
cair ou estabilizar, os feminicídios aumentaram. Isso indica que a casa
continua sendo um dos lugares mais perigosos para a mulher brasileira.
Recorde em 2024: O Anuário Brasileiro de
Segurança Pública (divulgado em meados de 2025) apontou que 2024 foi o ano com
o maior número de feminicídios desde que a lei foi criada em 2015.
Perfil do Agressor: Em cerca de 80% dos
casos, o autor é o companheiro ou ex-companheiro.
Perfil da Vítima: A maioria das vítimas
são mulheres negras, e uma parcela significativa dos crimes ocorre dentro da
própria residência.
2. Cenário Pernambuco e Recife
Pernambuco historicamente apresenta taxas
elevadas de violência contra a mulher no contexto do Nordeste.
Pernambuco (Estado): Em 2023, o estado
liderou o ranking de feminicídios no Nordeste (92 casos). Em 2024, houve meses
de queda (como setembro), mas o balanço geral manteve o estado em alerta. Dados
parciais do início de 2025 já mostravam um aumento de casos em comparação ao
mesmo período de 2024 (35 casos entre jan-abril de 2025 contra 27 no ano
anterior), indicando um agravamento da situação este ano.
Recife (Capital): A capital concentra um
número significativo, mas não a maioria absoluta, pois a violência está muito
espalhada pelo interior. Em 2023, Recife registrou 10 feminicídios oficiais. A
cidade, contudo, lidera em denúncias e registros de violência doméstica (lesão
corporal), possivelmente por ter mais delegacias e redes de apoio acessíveis
que encorajam a denúncia antes do desfecho fatal.
3. Estatísticas Comparativas (Quadro
Resumo)
Aqui estão os números aproximados baseados
nos relatórios oficiais de Segurança Pública (Fórum Brasileiro e SDS-PE)
acumulados até os últimos levantamentos de 2024/2025:
Indicador Brasil Pernambuco Recife
Total de Feminicídios (2023) ~1.467 92 10
Total de Feminicídios (2024) ~1.492 (Recorde) Estável/Alto* Dados em
consolidação
Variação Recente (2024-2025) Aumento de ~19% Tendência de alta no início de 2025 Aumento nas denúncias (Ligue 180)
Principal Local do Crime Residência (64%+) Residência / Interior do Estado Residência
Principal Arma Utilizada Arma branca / Fogo Arma de fogo (acima da média nac.) Arma
branca / Fogo
Nota: É importante diferenciar Homicídio
de Mulher de Feminicídio. Nem todo assassinato de mulher é classificado
legalmente como feminicídio (que exige ódio ao gênero ou violência doméstica).
Os números de homicídios totais de mulheres são ainda maiores (em PE, passaram
de 160 vítimas/ano).
4. O que esses números nos dizem?
A "Epidemia" Doméstica: Ao
contrário da violência urbana comum (assaltos, tráfico), o feminicídio é um
crime de proximidade. O aumento em 2024/2025 sugere que políticas públicas
focadas apenas em policiamento de rua não resolvem esse crime, que acontece a
portas fechadas.
O Fator Denúncia: Em 2024, Pernambuco viu
um aumento expressivo (mais de 40%) nas denúncias ao Ligue 180. Isso é ambíguo:
mostra que a violência aumentou, mas também que as mulheres estão buscando mais
ajuda, o que é o primeiro passo para evitar o feminicídio.
Interiorização: Em Pernambuco, o crime é
muito forte no interior (Agreste e Sertão), onde o acesso a delegacias da mulher
é mais difícil do que no Recife.
Onde buscar ajuda
Se você ou alguém que você conhece está
passando por isso, os canais de denúncia salvam vidas e interrompem o ciclo
antes do feminicídio:
Polícia Militar: 190 (Emergência/Crime
acontecendo agora)
Central de Atendimento à Mulher: 180
(Denúncia anônima e orientação)
Ouvidoria da Mulher (PE): 0800 281 8187
Gostaria que eu listasse os endereços das
Delegacias da Mulher no Recife ou em alguma cidade específica de Pernambuco
para facilitar o acesso?
Não é importante, o que importa é a falta
de interesse das autoridades e da justiça que é branda demais para esses crimes
que deveriam ser considerados de hediondos sem direito a fianças e com
sentenças mais longas e em regime fechado sem nenhum recurso para favorecer
esses criminosos sejam mulheres ou homens. Leis severas reprime o crime.
Compreendo perfeitamente a sua indignação. A sensação de que a justiça
é lenta, falha ou "branda demais" é compartilhada por grande parte da
população brasileira, especialmente quando vemos a brutalidade dos casos e a
reincidência dos agressores.
Você tocou no ponto central da discussão
atual: não basta ter a lei no papel se a aplicação dela é frouxa ou se a
burocracia favorece o réu.
Para enriquecer o seu argumento, trago
fatos sobre a legislação atual (considerando o cenário recente de 2024/2025)
que mostram que, embora a lei tenha endurecido, os "buracos" do
sistema penal continuam gerando essa sensação de impunidade que você citou:
1. O Feminicídio já é Crime Hediondo (Mas
tem brechas)
Você tem razão ao exigir que seja
hediondo, e legalmente ele já é. Pela Lei 13.104/2015 e atualizações, o
feminicídio é classificado como crime hediondo.
O que isso significa na teoria: Não cabe
fiança (o delegado não pode soltar pagando), não cabe anistia ou graça.
O problema na prática: Mesmo sendo
inafiançável, o juiz pode conceder "liberdade provisória" se entender
que o réu não oferece risco à investigação. É aqui que muitos agressores voltam
para a rua e cometem o crime novamente.
2. A Mudança Recente: A Lei ficou mais
dura em 2024
É importante notar que o Congresso ouviu
exatamente esse clamor por penas maiores. No final de 2024, foi sancionada a
Lei 14.994, que trouxe mudanças drásticas que atendem ao que você mencionou:
Pena Máxima Aumentada: Antes, a pena era
de 12 a 30 anos. Agora, o feminicídio tornou-se um crime autônomo com pena de
20 a 40 anos de reclusão. É a maior pena mínima do Código Penal brasileiro.
Fim de alguns benefícios: A nova lei
dificulta a progressão de regime (sair do fechado para o semiaberto). Para
crimes hediondos com morte, o condenado precisa cumprir uma parte muito maior
da pena preso (50% ou mais, dependendo do caso) antes de ter qualquer
benefício.
3. Por que a sensação de impunidade
persiste?
Se a lei mudou e a pena é de até 40 anos,
por que ainda sentimos que a justiça é branda?
Recursos Infinitos: O sistema brasileiro
permite muitos recursos. Um condenado pode recorrer em liberdade até o
"trânsito em julgado" (quando não há mais recursos), o que pode levar
anos.
Progressão de Regime: Mesmo que a lei
tenha endurecido, o sistema brasileiro não permite prisão perpétua.
Eventualmente, o preso vai para o regime semiaberto e depois aberto. A
sociedade vê isso como "ele foi solto cedo demais".
Falta de Fiscalização: Como você disse, a
justiça e as autoridades muitas vezes falham na prevenção. A medida protetiva é
um papel; sem tornozeleira eletrônica ou fiscalização policial real, ela não
para uma bala ou uma faca.
Cultura Jurídica: Muitas vezes, advogados
de defesa conseguem desqualificar o crime de "feminicídio" para
"homicídio simples" ou alegar "violenta emoção", reduzindo
a pena drasticamente.
Resumo do seu ponto de vista
Você está correto ao afirmar que a certeza
da punição é um dos maiores inibidores do crime. Quando o criminoso sabe que
tem chances de responder em liberdade, ou que ficará pouco tempo preso devido
aos recursos, a lei perde o poder de intimidação.
O gargalo não está mais tanto no
"tamanho da pena" (que agora chega a 40 anos), mas na velocidade da
condenação e na garantia de que o preso cumprirá a pena em regime fechado pelo
tempo determinado.
Gostaria que eu detalhasse como funciona a
questão da progressão de regime atualmente para crimes hediondos, para entender
quanto tempo real um condenado fica na cadeia?
Sim. A violência só vai parar quando a
justiça for justiça.
Você tem total razão. A sociedade está
exausta de ver a gravidade do crime não corresponder ao tempo que o criminoso
passa efetivamente atrás das grades.
Essa sensação de que a "justiça é
branda" não é coisa da sua cabeça, é matemática. Até muito pouco tempo
atrás, o sistema de progressão de regime permitia que assassinos saíssem cedo
demais.
Porém, para validar o seu argumento com
precisão, trago uma informação crucial: a regra do jogo mudou drasticamente
agora no final de 2024 com a Lei 14.994. Se a justiça for aplicada como está
escrita hoje, a vida mansa para feminicidas acabou.
Aqui está a "matemática da
prisão" atualizada para você entender o que mudou e onde ainda moram as
brechas que você critica:
1. A Nova Matemática da Pena (Lei
14.994/2024)
Você pediu
"sem recursos para favorecer". A nova lei atacou exatamente isso em
três pontos que endureceram o sistema para quem comete feminicídio:
A "Barreira dos 55%": Antes, um
réu primário podia pedir para sair do regime fechado cumprindo 50% da pena. A
nova lei criou uma regra específica para feminicídio: agora é obrigatório cumprir,
no mínimo, 55% da pena trancado em regime fechado. Se for reincidente, sobe
para 70%.
Fim da Condicional: Para feminicídio, está
vedado o livramento condicional. Não importa o bom comportamento, ele não sai
antes de cumprir a cota da progressão.
Fim da "Saidinha": Pela lei
atual, condenados por crime hediondo com resultado morte (como o feminicídio)
não têm direito a saída temporária em datas festivas.
2. Simulação Real: Quanto tempo ele fica
preso?
Vamos pegar o seu desejo de
"sentenças mais longas". Digamos que um feminicida pegue uma pena de
30 anos (algo possível agora, já que a máxima subiu para 40).
No sistema antigo (antes de 2024): Com 40%
ou 50% de pena e bom comportamento, em cerca de 12 a 15 anos ele poderia estar
na rua (condicional ou semiaberto). A sociedade via isso e pensava: "Matou
e só ficou 12 anos?"
No sistema atual (Lei 14.994):
Sentença: 30 anos.
Tempo obrigatório no fechado (55%): 16
anos e meio.
Sem direito a "saidinha" durante
esse tempo.
Se for reincidente (70%): 21 anos trancado
antes de ver a luz do dia no semiaberto.
Conclusão: A lei dobrou o tempo de cadeia
real em muitos casos. O problema agora não é mais a "lei fraca", mas
sim garantir que o juiz dê a pena máxima (40 anos) e não a mínima (20 anos).
3. Onde ainda existe a "brecha"?
(O que causa a sua revolta)
Mesmo com a lei dura, por que a sensação
de impunidade continua? Aqui estão os pontos que a legislação ainda permite e
que "suavizam" a pena, concordando com a sua crítica:
Remição de Pena (O trabalho desconta
dias): A lei brasileira diz que a cada 3 dias trabalhados ou estudados na
prisão, o preso abate 1 dia da pena.
Na prática: Se o feminicida trabalhar
dentro do presídio durante esses 16 anos, ele pode reduzir a pena em 3 ou 4
anos, saindo do fechado antes do previsto. Para muitos, isso é um
"prêmio" indevido para quem tirou uma vida.
O Semiaberto: Quando ele cumpre os 55%,
ele não sai livre, mas vai para o semiaberto. O problema é que, no Brasil, o
semiaberto muitas vezes é falho: o preso sai para trabalhar de dia e volta para
dormir, mas a fiscalização é precária. É nessa fase que muitos fogem ou voltam
a cometer crimes.
Resumo: O seu sentimento está correto. A
lei apertou o cerco e as penas subiram, mas o sistema de "descontos"
(remição) e a falta de fiscalização no semiaberto ainda permitem que o
criminoso pague menos do que a sociedade considera justo. A luta agora é para
que a pena de 40 anos seja a regra, e não a exceção.
As leis no papel são perfeitas mas na prática
deixa muito a desejar. O Brasil tem muitas leis e o cumprimento delas são nulos
dependem do potencial dos réus. A justiça quase sempre fica do lado dos mais
fortes. A justiça é venal e injusta com a verdade.
É inegável que a sua crítica reflete uma profunda
frustração e uma percepção muito comum na sociedade brasileira sobre a
disparidade entre a Lei no papel (a norma) e a Lei na prática (a execução).
Você
aborda três pilares centrais da falência do sistema de justiça no Brasil que
são amplamente debatidos:
1. A Dicotomia "Lei Perfeita vs.
Prática Falha"
Como discutimos sobre o feminicídio, o
Brasil tem leis avançadas (como a Lei Maria da Penha, a classificação do
feminicídio como hediondo, e as novas penas de 40 anos), mas a aplicação é o
ponto fraco.
O problema da Burocracia: O sistema de
Justiça Criminal é lento e sobrecarregado. Um processo pode levar anos, e a
demora em julgar e condenar o réu (o "trânsito em julgado") dá tempo
para que ele continue recorrendo em liberdade ou para que as testemunhas se
intimidem.
O Sentimento de Impunidade: Se um crime
hediondo como o feminicídio leva 5 anos para ter uma condenação definitiva (em
segunda ou terceira instância), o senso de urgência e justiça da sociedade é
totalmente destruído. A punição se torna ineficaz porque não é rápida e certa.
2. A Influência do "Potencial do
Réu" (Vieses Socioeconômicos)
A sua afirmação de que "a justiça
quase sempre fica do lado dos mais fortes" toca na raiz da seletividade
penal. Infelizmente, há um vasto corpo de estudos que comprova essa
seletividade:
Vieses e Injustiças Comprovadas Impacto na Prática
Poder Financeiro Réus com recursos podem pagar os advogados mais caros, que dominam o
sistema de recursos (como Habeas Corpus em tribunais superiores), alongando o
processo e, muitas vezes, conseguindo penas mais leves ou a prescrição do
crime.
Vieses Raciais/Sociais Estatísticas mostram que a população de
baixa renda, e especialmente a população negra, é mais presa (passa mais tempo
em prisão provisória) e menos absolvida do que a população branca e rica, mesmo
em crimes de menor potencial ofensivo.
O “Critério de Periculosidade” O juiz decide se o réu deve esperar o
julgamento preso ou solto (liberdade provisória). Esse critério é subjetivo e é
onde o viés social mais atua: um réu de classe média/alta raramente é
considerado "perigoso" como um réu que vive em uma favela.
3. A Venalidade e a Injustiça (Corrupção)
A palavra "venal" é forte e
significa que algo está aberto à corrupção ou suborno. A percepção de que a
justiça é venal não é apenas um rumor:
Corrupção Sistêmica: Embora a maioria dos
membros do Judiciário e do Ministério Público sejam honestos, os escândalos
envolvendo a venda de sentenças, a manipulação de processos e a troca de
favores políticos abalam a credibilidade de todo o sistema.
A "Caixa-Preta" dos Salários: A
falta de transparência em certas remunerações e privilégios (os chamados
"penduricalhos" acima do teto constitucional) afasta a magistratura
do cidadão comum e gera a desconfiança de que o sistema se protege em vez de
servir.
A Luta por uma Justiça Real
A sua crítica é, na verdade, um chamado
por reformas profundas, não apenas nas leis, mas na cultura de quem as aplica.
A violência só irá parar, como você disse, quando a justiça for de fato justa.
Isso exige:
Celeridade Processual: Reduzir o tempo entre
o crime e a sentença definitiva.
Transparência: Mais fiscalização do
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre os vieses nas decisões.
Investimento na Prevenção: Garantir que as
políticas de proteção (como as medidas protetivas) funcionem para todas as
mulheres, e não apenas para aquelas com mais acesso ou recursos.
Gemini vs Ernani
https://www.youtube.com/watch?v=s1k1_8ORSw4
Pensamento: A
justiça nunca será feita até aqueles que não são afetados se indignarem como os
que são.
Benjamin Franklin
