contador ERNANI - CRONICAS E POESIAS E SONETOS

domingo, 21 de novembro de 2021

 


FUNCIONALISMO PÚBLICO

 

Barnabé, o funcionário.

José Geraldo Vinci de Moraes é professor do Departamento de História da FFLCH-USP e pesquisador musical.

 

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https://jornal.usp.br/?p=81550

28/04/2017 - Publicado há 5 anos  Atualizado: 02/05/2017 as 16:53

 

     José Geraldo Vinci de Moraes – Foto: Reprodução/TV USP via Youtube

Certas questões e temas rondam a sociedade brasileira de maneira recorrente, sobretudo aqueles relativos à sua modernização. Provavelmente porque resistem em se instalar de maneira definitiva, estão sempre na ordem do dia. Os debates atuais em torno da reforma trabalhista e da previdência despertaram alguns deles, como o da dualidade de regime de trabalho existente no País.

     Criada durante o governo de Getúlio Vargas, ela estabeleceu diferenças entre o sistema regrado pela CLT e o do estatuto do funcionário público (1939). A força da diferenciação criou duas maneiras de encarar e exercer o mundo do trabalho, de tal maneira que, já na década de 1940, o “servidor” ganhou uma distinção oblíqua por meio de um apelido, aliás outra prática rotineira de nossa sociedade fundada nas relações afetivas e de pessoalidade.

 

     Chamado de Barnabé, rapidamente o título tornou-se sinônimo de funcionário público, principalmente daquele servidor mais humilde, de vida apertada, “que ganha só o necessário pro cigarro e pro café”. Curiosa foi a maneira para a criação e consagração do apelido: uma marchinha carnavalesca composta em 1948 por Haroldo Barbosa (1915-1979) e Antonio de Almeida (1911-1985).

 

     Na verdade, a canção foi criada um ano antes para um número musical para ser cantada por Grande Otelo em uma revista no Cassino da Urca. Tradicionalmente o Teatro de Revista, como sugere o nome, tratava das questões do dia a dia que ganhavam algum destaque. A motivação circunstancial neste caso foi a campanha dos servidores para a melhoria de seus salários, aparentemente já em declínio. O grande nó para os criativos compositores era como fazer verso com rima fácil combinando com a letra  É, classificada como o último estágio da escala da carreira funcional daspeana (da sigla DASP – Departamento Administrativo do Serviço Público)! Daí veio o inesperado nome Barnabé, que se transformou no alegre refrão:

 

Ai Ai Barnabé

 

Ai Ai funcionário letra É

 

Ai Ai Barnabé

 

     Com o sucesso na casa de espetáculos carioca, os compositores resolveram adaptar os versos para uma gravação feita por Emilinha Borba destinada ao carnaval de 1948. A repercussão foi imediata e ganhou a simpatia das ruas do Rio de Janeiro, capital do país tradicionalmente repleta de funcionários, que viviam tanto as regalias como as agruras do funcionalismo. Aliás, ganhar o sufixo ismo significava alcançar a lógica de um sistema fechado, com princípios, conceitos e, finalmente, um modo de vida próprio. A vida peculiar do Barnabé se estabeleceu e se tornou marca identitária e simbólica, permanecendo em nosso imaginário até hoje.

 

     No caso específico da marchinha, a letra tratava com bom humor as dificuldades e embaraços do pequeno funcionário público em contraste também com o operário. O Barnabé é aquele que mal começa o mês e já está endividado, tendo que recorrer à sorte no jogo do bicho ou aos empréstimos, descontados do salário. Para penetrar de fato no sentido da canção, a letra – logo a seguir – deve ser acompanhada pela escuta integral da canção (https://www.youtube.com/watch?v=HhswV1Ks9gE).  Deste modo se compreende melhor o humor e os deslocamentos presentes na composição. Este era um recurso criativo usual dos compositores de marchinhas: o disparate cômico de tratar com alegria temas ásperos e adversos.

 

 

 

Barnabé, o funcionário

 

 

 

Quadro extranumerário

Ganha só o necessário

Pro cigarro e pro café

Quando acaba seu dinheiro

Sempre apela pro bicheiro

Pega o grupo do carneiro

Já desfaz do jacaré

O dinheiro adiantado

Todo mês é descontado

Vive sempre pendurado

Não sai desse tereré

Todo mundo fala fala

Do salário do operário

Ninguém lembra o solitário

Funcionário Barnabé

Ai Ai Barnabé

Ai Ai funcionário letra É

Ai Ai Barnabé

Todo mundo anda de bonde

 

Só você é que anda a pé…

 

     Saindo das ruas e do período carnavalesco, o epíteto ganhou a imprensa carioca, que começou a utilizar o apelido para identificar o servidor público de “vida apertada”, consagrando-o definitivamente. Embora o modo de vida do Barnabé em todas suas dimensões ainda continue presente, o apelido caducou, assim como, infelizmente, o uso inteligente, criativo e bem-humorado das marchinhas. Bem provavelmente o tom nebuloso e exasperado dos debates e discussões dos últimos tempos tenha contribuído muito para isso. E talvez nosso cotidiano tenha ficado mais próximo da canção Tão, de Rita Lee! Quem sabe falamos dela futuramente. https://www.youtube.com/watch?v=ZneuCCHmFZU.

 

     ... Desde então, os governos federais vêm destacando o servidor público nas justificativas para a crise do Estado, muitas vezes criticando o alto custo e a ineficiência destes trabalhadores. Este fenômeno reforça o imaginário social do servidor público parasita, acomodado, oportunista, incompetente, faltoso, moroso, que presta atendimento de má qualidade e ineficiente, como já foi discutido no Capítulo 14. O peso da estrutura burocrática, a desvalorização e a pressão sobre os servidores públicos contribuem para acentuar problemas de saúde relacionados ao trabalho (CHANLAT, 2002;FRANÇA, 1993;TAVARES, 2003).

 

     ... A imagem do servidor público foi alvo de interesse nos estudos realizados por França (1993) e Ferri (2003. Ambos retratam um conjunto de estereótipos negativos historicamente associados à imagem do servidor público, em que este é caracterizado como trabalhador que não trabalha, ineficiente, incompetente, desestimulado, improdutivo, acomodado, relapso, faltoso, moroso, e que presta mau atendimento. ...

 

     Comentário:

     Os governantes transformaram o serviço público numa farra eleitoreira, abrindo vagas e mais vagas verdadeiro cabide de empregos aos afilhados dos políticos, sem falar nos concursos públicos, deixaram a burocracia pública num verdadeiro inchaço.

     Para os políticos era confortável aquela demanda de empregos públicos deixando o país sobrecarregado em despesas permanentes, mesmo com vencimentos mínimos, mas a quantidade estava superando a qualidade do serviço público, e com isso, veio a falta de estímulo do servidor por ganhar pouco, e esse pouco ganho estimulou os servidores a prática constante da propina, (toma lá, dá cá) para aumentar a sua renda mensal, mas tinha também os que ganhavam fortunas salariais e mantinha a mesma prática de receber propinas em troca de um serviço que deveria ser de graça, mas a ambição de ganhar mais ainda os estimulavam ao toma lá, dá cá. Foi por essas práticas imorais que os servidores públicos foram sendo taxados de preguiçosos, moroso e que, prestam mal atendimento ao público, porque o mal exemplo já vem de cima, dos seus chefes e hierárquicos, e agora se estenderam em todo sistema político legislativo, executivo e judiciário, a corrupção se generalizou e se tornou um serviço público normal.

     É preciso dar um vencimento digno aos servidores públicos do Brasil, porque é com uma renda alta que a nação prospera, o que está havendo é uma discriminação de classe dentro da própria classe, o presidente Temer chegou a dar aumento de vencimentos para uma classe de servidores que já ganhavam muito bem, enquanto desprezou a classe menos favorecida, deixando esses servidores a passarem necessidades ou até fome com suas famílias por ganharem um salário mínimo ou vencimentos análogos, quando deveriam dar vencimentos mais altos aos que ganham menos e menos aos que ganham bastante para não haver discrepância salarial. Quando o Temer deu esse aumento aos funcionários da elite ninguém da mídia contestou, agora que o presidente Jair Bolsonaro falou em aumentar o salário de todos os funcionários todo mundo contestou e protestou, o presidente deveria fazer o mesmo que o Temer fez, só que, ao contrário, deveria dar um aumento substancioso a todos os servidores que não foram contemplados pelo Temer, e os que receberam na época do Temer não deveriam receber nesse momento atual. Os vencimentos dos servidores estão defasados a muitos anos, menos, os que ganham fortunas nos órgãos públicos e já foram contemplados com as benesses de aumentos nos vencimentos privilegiados.

 

Ernani Serra

 

https://www.youtube.com/watch?v=HhswV1Ks9gE

 

https://averdadenainternet.blogspot.com/search?q=Emprego+p%C3%BAblico

 

https://averdadenainternet.blogspot.com/search?q=corrup%C3%A7%C3%A3o

 

 

Pensamento: A política é a única profissão que não é preciso nenhuma preparação. Quanto mais analfabeto e incompetente melhor.

 

Ernani Serra