1 milhão de espécies ameaçadas: o que diz
preocupante relatório da ONU sobre impacto humano.
Matt McGrath
BBC
6 maio 2019
A polinização é vital para a produção de
alimentos.
O impacto dos seres humanos na natureza é
devastador - seja em terra, nos mares ou no céu. É o que mostra um relatório
divulgado nesta segunda-feira pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Segundo a organização, 1 milhão de
espécies de animais e vegetais estão ameaçados de extinção.
O meio ambiente está sendo degradado em
toda parte a uma velocidade sem precedentes, e um dos fatores determinantes é a
nossa necessidade por cada vez mais alimentos e energia.
5 produtos do cotidiano que são uma ameaça
ao meio ambiente - e alguns, à sua saúde
Como entender
(e diminuir) o impacto dos seus hábitos no meio ambiente, de roupas a comida.
Essa tendência pode ser revertida, diz o
estudo, mas será necessária uma "mudança transformadora" em todos os
aspectos de como os seres humanos interagem com a natureza.
Elaborada nos últimos três anos, essa
avaliação do ecossistema mundial é baseada na análise de 15 mil materiais de
referência e foi compilada pela Plataforma Intergovernamental para
Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês). São 1.800
páginas no total.
O resumo de 40 páginas, publicado nesta
segunda-feira, talvez seja a mais forte denúncia de como os homens trataram seu
único lar.
O documento afirma que, embora a Terra
tenha sofrido sempre com as ações dos seres humanos ao longo da história, nos
últimos 50 anos esses arranhões se tornaram cicatrizes profundas.
Relatório revela o impacto devastador dos
seres humanos na natureza
Expansão humana
A população mundial dobrou desde 1970, a
economia global quadruplicou e o comércio internacional está dez vezes maior.
Para alimentar, vestir e fornecer energia
a este mundo em expansão, florestas foram derrubadas num ritmo surpreendente,
especialmente em áreas tropicais.
Entre 1980 e 2000, 100 milhões de hectares
de floresta tropical foram perdidos, principalmente por causa da pecuária na
América do Sul e plantações de palmeira de dendê no sudeste da Ásia.
A
situação dos pântanos é ainda pior - apenas 13% dos que existiam em 1700
estavam conservados no ano 2000.
Nossas cidades se expandiram rapidamente;
as áreas urbanas dobraram desde 1992.
Toda essa atividade humana está matando
mais espécies do que nunca.
De acordo com a avaliação global, uma
média de cerca de 25% dos animais e plantas se encontram agora ameaçados.
As tendências globais em relação às
populações de insetos não são conhecidas, mas foram registrados declínios
acelerados em algumas regiões.
Tudo isso sugere que cerca de 1 milhão de
espécies estão à beira da extinção nas próximas décadas, um ritmo de destruição
de dezenas a centenas de vezes maior do que a média dos últimos 10 milhões de
anos.
"Nós documentamos um declínio
realmente sem precedentes na biodiversidade e na natureza, isso é completamente
diferente de qualquer coisa que tenhamos visto na história da humanidade em
termos de taxa de declínio e escala da ameaça", afirma Kate Brauman, da
Universidade de Minnesota, nos EUA, uma das principais autoras e coordenadoras
do estudo.
A biomassa global de mamíferos selvagens
caiu 82%
A avaliação também revela que os solos
estão sendo degradados como nunca, o que reduziu a produtividade de 23% da
superfície terrestre do planeta.
Nosso apetite insaciável está
produzindo, por sua vez, uma montanha de lixo.
A poluição causada por plástico aumentou
dez vezes desde 1980.
Todos os anos despejamos de 300 milhões a
400 milhões de toneladas de metais pesados, solventes, lama tóxica e outros
resíduos nas águas do planeta.
O que há por trás da crise?
Os autores do relatório dizem que há uma
série de fatores que levaram a este cenário, apontando como principal a mudança
no uso do solo.
Isso significa essencialmente a
substituição de prados pela agricultura intensiva, a substituição de florestas
antigas por plantações florestais ou o desmatamento de florestas para cultivar
alimentos. Isso está acontecendo em muitas partes do mundo, especialmente nos
trópicos.
Desde 1980, mais da metade do avanço na
agricultura se deu à custa de florestas intactas.
No mar, a situação é semelhante.
Apenas 3% dos oceanos foram descritos como
livres da pressão humana em 2014.
Os peixes estão sendo explorados como
nunca. Em 2015, 33% das populações de
peixe foram capturadas de forma insustentável.
Muitas espécies de peixe estão em declínio
devido à pesca indiscriminada, diz o estudo
A cobertura de corais vivos nos recifes
caiu quase pela metade nos últimos 150 anos.
No entanto, impulsionando tudo isso, há
uma demanda crescente por alimentos da população mundial em expansão e,
especificamente, nosso apetite cada vez maior por carne e peixe.
"O uso da terra aparece agora como o
principal fator do colapso da biodiversidade, com 70% da agropecuária
relacionada à produção de carne", diz Yann Laurans, do Instituto de
Desenvolvimento Sustentável e Relações Internacionais (Iddri, na sigla em
francês).
"É hora de reconsiderar a
participação da carne industrial e laticínios na nossa alimentação."
Os outros fatores-chave são a caça e a
exploração direta de animais, assim como as mudanças climáticas, a poluição e
espécies invasoras.
O relatório conclui que muitos desses
fatores atuam juntos para agravar a situação.
A tendências em relação às populações de
insetos não são conhecidas, mas foram documentados declínios acelerados em
algumas regiões
Risco de extinção de espécies:
aproximadamente 25% delas já estão ameaçadas de extinção na maioria dos grupos
de animais e plantas analisados.
Ecossistemas naturais: diminuíram em média
47%.
Biomassa e abundância de espécies: a
biomassa global de mamíferos selvagens caiu 82%. E os indicadores de abundância
de vertebrados recuaram rapidamente desde 1970.
Natureza para os povos indígenas: 72% dos
indicadores desenvolvidos pelas comunidades locais mostram uma deterioração
contínua dos elementos da natureza importantes para eles.
O que o futuro nos reserva?
Tudo depende do que vamos fazer.
Pesquisadores dizem que a perda da
biodiversidade terá grandes implicações para os seres humanos.
Os autores analisaram uma série de
cenários para o futuro, incluindo a trajetória atual, mas também examinaram
opções baseadas em práticas mais sustentáveis.
Em quase todos os casos, as tendências
negativas para o meio ambiente vão continuar para além de 2050.
Os únicos que não seguem em direção ao
desastre ecológico envolveram o que os cientistas chamam de "mudança
transformadora".
O que significa a 'mudança
transformadora'?
O estudo não diz aos governos o que fazer,
mas dá conselhos bem fortes.
Uma das ideias principais é se distanciar
do "limitado paradigma do crescimento econômico".
O relatório sugere deixar de lado o
Produto Interno Bruto (PIB) como principal indicador de riqueza econômica e, em
vez disso, adotar abordagens mais holísticas que capturem a qualidade de vida e
os efeitos no longo prazo.
Eles argumentam que a nossa noção
tradicional de "boa qualidade de
vida" envolve o aumento do consumo em todos os níveis. E isso tem que
mudar.
Da mesma forma, deve haver mudanças quando
se trata de incentivos financeiros que prejudicam a biodiversidade.
"Os governos precisam acabar com os
subsídios destrutivos, incluindo os combustíveis fósseis, a pesca industrial e
a agricultura", afirmou Andrew Norton, diretor do Instituto Internacional
para o Meio Ambiente e Desenvolvimento.
"Eles impulsionam a pilhagem da terra
e do oceano às custas de um ambiente limpo, saudável e diversificado, do qual
bilhões de mulheres, crianças e homens dependem agora e no futuro."
A quantidade de terra e mar que está sob proteção
precisa aumentar rapidamente - segundo os especialistas, um terço de nossas
terras precisa ser preservado.
"Precisamos proteger metade do
planeta até 2050, com uma meta intermediária de 30% até 2030", afirmou
Jonathan Baillie, da National Geographic Society.
"Então, devemos recuperar a natureza
e impulsionar a inovação. Só assim deixaremos para as futuras gerações um
planeta saudável e sustentável."
Isso é pior que a mudança climática?
A mudança climática é um fator subjacente
crucial que está ajudando a impulsionar a destruição em todo o mundo.
As
emissões de gases do efeito estufa dobraram desde 1980 e as temperaturas
subiram 0,7°C como resultado. Isso teve um grande impacto em algumas espécies,
tornando sua extinção mais provável.
A avaliação global conclui que se as
temperaturas subirem 2°C, então 5% das espécies estará correndo o risco de
extinção por causa do clima. Este
percentual sobe para 16% se o mundo ficar 4,3°C mais quente.
Aproximadamente 25% das espécies já estão
ameaçadas de extinção
"Da lista dos principais fatores
determinantes do declínio da biodiversidade, a mudança climática é apenas a de
número três", afirmou o professor John Spicer, da Universidade de
Plymouth, no Reino Unido.
"A mudança climática é certamente uma
das maiores ameaças que a humanidade enfrenta em um futuro próximo - então o
que isso nos diz sobre o primeiro e o segundo (fator), alterações no uso da
terra/mar, e a exploração direta? A situação atual é desesperadora e há algum
tempo."
Os autores do estudo esperam que sua
avaliação se torne tão decisiva para o debate sobre a perda de biodiversidade
quanto o relatório do IPCC sobre o aquecimento global de 1,5 °C foi para a
discussão sobre a mudança climática.
O que eu posso fazer?
A ideia de ação transformadora não se
limita apenas aos governos ou autoridades locais. Os indivíduos certamente
podem fazer a diferença.
"Sabemos que a maneira como as
pessoas se alimentam hoje é muitas vezes prejudicial para elas e para o
planeta", afirma Kate Brauman, uma das autoras do relatório.
"Podemos nos tornar mais saudáveis
como indivíduos ao adotar uma dieta mais diversificada, com mais legumes e
verduras, e também podemos tornar o planeta mais saudável cultivando esses
alimentos de maneiras mais sustentáveis".
Além das opções de consumo e estilo de
vida, outros autores acreditam que as pessoas podem fazer a diferença por meio
da política.
"Pode ser mais importante para a
sociedade investir mais em energias renováveis do que em carvão", afirma
Rinku Roy Chowdhury, da Universidade Clark, em Massachusetts, nos EUA.
"Mas como você faz isso? Pelo
comportamento individual, na cabine de votação."
"Em vez de apenas economizar energia
apagando as luzes, alguns meios menos óbvios podem ser por meio da ação
política."
Comentário:
O ser humano está colhendo o que está
plantando, a destruição da biodiversidade pelo homem é uma catástrofe mundial,
se não houver uma redução mundial da população o planeta está fadado a uma
extinção total de vidas no reino animal e vegetal. Sem as florestas não haverá
seres vivos e nem água, tudo vai se transformar num deserto.
O laboratório da PFIZER anunciou que o
vírus do COVID-19 não vai ser extinto e vai ser preciso que a população tome a
vacina anualmente como se fosse à campanha da gripe. A humanidade está
merecendo esse vírus mortal por conta de sua ação predatória ao meio ambiente e
sendo responsável pela destruição e extinção das vidas no planeta, incluindo o
próprio homem.
Que é a biodiversidade?
De acordo com o Artigo 2 da Convenção
sobre Diversidade Biológica, a biodiversidade pode ser definida como: “a
variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre
outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e
os complexos ecológicos de que fazem parte.
Ernani Serra
https://globoplay.globo.com/v/9446046/?s=0s
Pensamento:
Destruir a biodiversidade é exterminar toda a vida terrestre, animal e vegetal.
Ernani Serra